Democracia
Bolsonaro nega plano de golpe e ite “retórica exagerada” em depoimento ao STF 332y23
10/06/2025 15h17
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Por: Hiago Luis
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Foto: Valter Campanato/Agência Brasil e Gustavo Moreno/STF
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) prestou depoimento na tarde desta terça-feira (10) ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da ação penal que investiga uma tentativa de golpe para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva após as eleições de 2022. Bolsonaro, um dos oito réus do chamado "núcleo crucial" da suposta trama golpista, começou sua oitiva buscando se defender, justificando falas proferidas por ele mesmo durante o seu mandato.
Logo no início do interrogatório, Bolsonaro tentou afastar a imagem de conspirador, afirmando que suas declarações sobre as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral brasileiro foram motivadas por "preocupações legítimas" e que, se houve algum excesso, foi “retórico”. Ele comparou o modelo brasileiro com o de países como Venezuela e Paraguai — o que causou surpresa no plenário, considerando que são nações frequentemente criticadas por ele por práticas antidemocráticas.
“Nós temos muita coisa ao nosso lado mostrando que esse sistema que está aí carece de um aperfeiçoamento. No Paraguai, as eleições, no meu entender, é o ideal. Como ou a existir nas últimas eleições até na Venezuela, que foi permitido lá notar que algo de anormal estava acontecendo”, afirmou Bolsonaro.
O ex-presidente voltou a defender o voto impresso como “mais uma camada de proteção” e, ao ser pressionado sobre acusações de fraude sem provas, itiu: “Se eu exagerei na retórica, devo ter exagerado, com certeza”.
Acusação contra Ministros do Supremo
Bolsonaro também foi questionado por Moraes sobre falas em que acusava ministros do TSE de receber propina para fraudar eleições. Confrontado com uma reunião em que teria dito que Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso teriam recebido “milhões de dólares”, o ex-presidente respondeu:
"Quais eram os indícios que o senhor tinha que nós estaríamos levando U$S 50 milhões, U$S 30 milhões?", perguntou Moraes.
"Não tem indícios nenhum, senhor ministro. Tanto é que era uma reunião para não ser gravada. Um desabafo, uma retórica que eu usei. Se fosse outros três ocupando teria falado a mesma coisa. Então, me desculpe, não tinha qualquer intenção de acusar de qualquer desvio de conduta os senhores três", respondeu Bolsonaro.
Bolsonaro Nega tentativa de Golpe
Bolsonaro também afirmou que sua atuação teve como objetivo evitar “qualquer conflito”. Em sua fala, tentou se dissociar de qualquer tentativa de ruptura institucional, embora, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), ele tenha tido conhecimento de uma minuta de decreto golpista e até sugerido alterações no documento, conforme revelado pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid em sua delação.
“Me encontrei várias vezes (com os comandantes das Forças Armadas), mas não para tratar de minuta. Sempre estive do lado da Constituição. Refuto qualquer possibilidade de falar minuta de golpe ou do que não estivesse enquadrado na Constituição. Não tive contato com essa minuta”, declarou o ex-presidente.
“Tratamos de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) por causa dos caminhoneiros e do pessoal na frente dos quartéis. Discutimos possibilidades outras dentro da Constituição. Ou seja, nunca saindo das quatro linhas. Em poucas reuniões, abandonamos qualquer possibilidade de ação constitucional”, depôs ainda.
O interrogatório de Bolsonaro marca uma das etapas finais do processo criminal. Já foram ouvidos outros réus, como Mauro Cid, Alexandre Ramagem, Almir Garnier e Anderson Torres. Após os depoimentos, o STF deve abrir prazo para alegações finais da defesa e acusação. O julgamento pode acontecer ainda no segundo semestre de 2025.
Caso seja condenado, Bolsonaro poderá enfrentar penas superiores a 30 anos de prisão. A denúncia da PGR também envolve acusações relacionadas à edição de uma suposta “minuta do golpe” e conhecimento de planos extremistas, como o "Punhal Verde Amarelo", que previa assassinatos de lideranças políticas.
Autor: Hiago Luis